domingo, 16 de outubro de 2011

Dia 12 - Ainda em alto mar rumo a Cabo Verde

Assumi o comando às 2 da madrugada. Desde que saímos de Mogán, as velas estão em asa de pomba e sem necessidade de nenhuma regulagem. Vento de 13 a 20 nós e o barco com velocidade de 7 a 8 nós. Ondas de até 2 metros. Bem tranquilo.

O único inconveniente são as ondas sem padrão que provocam um balanço cansativo e extenuante. A necessidade de equilíbrio me leva a utilizar musculaturas antes não movimentadas tão intensamente.; panturrilha, pescoço, coxas. Quando vou repousar as dores aparecem e incomodam.

Estamos entrando na zona do Sahara ocidental e o vento noturno é muito frio. Às 7 da manhã troco de turno e vou dormir um pouco. Antes, um Iogurte com granola.

Acordo às 10 vou à popa para conversar um pouco com o Guilherme. Ele me relata que as condições climáticas estão muito favoráveis e não devem se alterar. A meteorologia acertou!  Estamos fazendo uma rota bem afastada da marinha mercante pois nos informaram em Mogán que na região da Mauritania e Senegal havia risco de piratas. Ricardo, o marinheiro de Mogán, me disse que nos últimos anos, 2 veleiros desapareceram, o que leva a crer que foram atacados por piratas. A nossa rota, afasta essa possibilidade. Piratas não teriam combustível para atacar a essa distância da costa. Porém fico sempre atento a qualquer aproximação. Por enquanto única coisa visível é água... por todos os lados.

Retomo o comando às 11h e verifico as condições do Spot. A cor do mar é impressionante: um azul cobalto que me deixa maravilhado. O vento sobe para 25 nós e o mar fica agitado. As ondas se desencontrando provocam movimentos bruscos na embarcação o que nos tira a possibilidade de ficar circulando.

O Guilherme tenta preparar uma salada para o almoço. Desço para comer a salada pois com o vento a 25 e balanço do mar picado, comer na popa é impossível. Me apoio entre a geladeira e a pia para não cair e começo a comer em pé a salada, desta vez sem tempero para evitar desastres. Mal começo meu almoço e uma onda de uns 3 metros pega o veleiro de alheta e... eu resisto no local, o prato também não se solta das minhas mãos porém... a comida voa do prato como se não existisse a força da gravidade. 15 minutos para recolher os destroços, me lavar e desistir de almoçar. Uma barra de chocolate e pronto.

Esse vento continuou por todo o dia e noite. Estamos andando a uma velocidade de 8 a 9 nós, ainda sem mexer nas velas; continua a asa de pombo sem alterações. São 23 horas e o mar continua picado. As ondas sem padrão fazem o veleiro parecer uma rolha. Uma delas arranca meu computador da mesa de navegação e o faz experimentar um vôo sem destino. Ligo-o em seguida e constato que nada aconteceu, funciona; o Mac é parrudo. Ao barco também nenhum dano.

Antes do meu turno tento descer ao quarto e me acomodar em um espaço onde o teto e o colchão se separam por 35 cm. Procuro esse espaço para tentar ficar preso na cama. Não dá . Nem assim consigo ficar um pouco estático para descansar. Pelo visto essa noite ninguém dorme.

O Guilherme comenta que o estado do mar é anormal. O vento sim, é normal que fique a 25, mas com o mar mais calmo. Vamos aguardar e ver no que que vai dar!

Marcos Antonio Cascino

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