quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Um Sonho Não Sonhado

Considerações finais

Quando encontramos um ambiente totalmente diferente daquele a qual  estamos acostumados, a adaptação a esse “novo” meio se faz mediante comparações com aquilo com que estamos acostumados. Nossos paradigmas modificam-se frente ao inédito.

Os ruídos percebidos no isolamento do alto mar limitam-se aos efeitos do vento e da água e os rangeres da embarcação. Quando escutamos algo diferente, automaticamente o nosso inconsciente tenta comparar com aquilo que estamos acostumados e seguros.... Surge então a grande incógnita: alucinações, comparações ou algo que simplesmente não sabemos explicar?

A visão é outro fator que muda bastante: estamos acostumados a “enxergar” a 40 cm a tela de um computador, conversar com um amigo a meio metro de distância, observar um pássaro a 15 metros, ler uma placa de trânsito a 30 metros. No mar isso é muito diferente, tudo muda buscamos sinais a 5.000m, 10.000m... Defrontamo-nos com as reais dimensões das coisas e da realidade.

No céu mais ainda; olhar aquele universo sem fim e buscar planetas e estrelas para nos guiar difere totalmente do nosso dia a dia na cidade e da prisão que ficamos aos equipamentos.

Por esse motivo voltamos de uma travessia mais sensíveis. Os sentidos ficam mais apurados, superações que são requeridas como forma de sobrevivência, ações que nos tornam um ser humano melhor. O espiritual aflora, a emoção manifesta-se e o corpo material fica em segundo plano. Isto nos faz lembrar uma citação: “Somos seres espirituais passando por uma experiência humana, e não seres humanos passando por uma experiência espiritual” Pudemos sentir e vivenciar esta verdade que nos ultrapassa na compreensão e na lógica do cotidiano.

A humildade, a resiliência, a serenidade e o otimismo são fatores que se desenvolvem forçosamente. É muito interessante e salutar esquecer o status pessoal e ao atracar em um porto qualquer, andar descalço ou de sandálias havaianas, vestir uma bermuda sem grife, um chapéu de palha e ser recebido como um navegador. Aliás, torna-se brutal a diferença entre chegar a uma cidade litorânea como velejador ou como turista. O navegador ou velejador é sempre recebido como um amigo, como alguém que tem muitas histórias a contar, como alguém que enfrentou perigos no mar.... é procurado, cumprimentado, convidado a um café...

As grandes emoções que ficam gravadas para sempre são de um lado o por e o nascer do sol, as brincadeiras das baleias e dos golfinhos, o azul do mar... e por outro lado os perigos enfrentados: ondas de 4 metros e meio, ventos de 40 nós, tempestades e temporais, ondas desencontradas, tubarões e caravelas,....e aí vem outra assertiva que marca o nosso momento: “As pipas sobem mais contra o vento. Não a favor dele”.

Os momentos onde os fatores adversos nos surpreendem nos fazem desenvolver rapidamente a serenidade; é uma questão de sobrevivência...o medo tem que ser expurgado de nossa mente. O esforço físico em puxar os cabos de rizo, as escotas, timonear ao surgir uma tempestade ou um temporal é indescritível. É a nossa superação física que nunca imaginávamos conseguir.

A sensação e a certeza é de que valeu a pena. Afinal a vida nada mais é do que uma sucessão de acidentes. Devemos sorrir enquanto temos dentes e aproveitar as aventuras enquanto ainda podemos vê-las e fazê-las! Pensemos nisto.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Rumo a São Paulo (Guarujá)

Com poucas perspectivas de vento partimos no final de tarde rumo a São Paulo. Navegação tranquila passando pelo travez de Parati de madrugada, o que nos levou a decidir rumar direto às Marinas Nacionais no Guarujá, para uma aproximação ainda com a luz do dia. Chegada com sentimento de dever cumprido. Afinal mais de 6.000 milhas com muitas emoções, desafios e superações.