terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dia 20 - Aprendendo a fazer os risos 1 e 2 e a levantar assimétrica

Assumi o comando da madrugada. O Guilheme foi dormir e eu fiquei já preparado para o que poderia vir. Estou me acostumando a conviver e a conhecer o Okey Dokey. Tenho minha equipe para me acompanhar nas madrugadas. O “spot” que conta tudo que está acontecendo para os que estão em terra, o Ray que é o piloto cego; marcamos o rumo e ele vai aconteça o que acontecer; O Corujão que é o display que mostra tudo o que está acontecendo em volta do barco (radar e carta). Eles são a minha companhia na madrugada. Converso com eles e deixo minha intuição responder inconscientemente.

Aliás, esqueci de outra companhia....os peixes voadores; são criaturas de 15 cm de comprimento que saem da água em vôos de até 30, 40 metros rasantes, tendo na calda dois pezinhos que ajudam a correr pela agua. Eles se arremessam principalmente onde tem luz e continuamente recebo um petardo no peito, na cabeça e pelo barco todo; cheiram muito mal, como se estivessem se deteriorando.

A madrugada começa calma... musica de sax... velocidade de 5 nós, mar calmo. Como já era de se esperar em torno das 2h da madrugada vejo relâmpagos ao longe; depois trovões que chegavam a trepidar o interior do barco. Como isso já era esperado os rizos já estvam feitos o único procedimento necessário foi centralizar a vela mestra pois o vento vinha de frente. Entramos na tempestade sem susto. Ventos de 23 nós para começar, chegando a 30 no ponto crítico. Já não era mais problema, estava me acostumando.

O Guilherme subiu, resmungou sobre soltar um pouco o prevent e em menos de 1 minuto estava dormindo de novo. Passei pela tormenta, eu e a minha equipe, sem maiores traumas. Sinto como se fosse um treinamento de sobrevivência. Poucas semanas antes este epsódio seria traumático, agora virou rotina.

A minha equipe ( Spot, Ray e Corujão) me dão grande segurança; o Spot ontem chegou a ficar por mais de meia hora submerso e saiu firme da contenda; o Ray segura qualquer situação sem abrir o bico e o Corujão sempre vai nos informando se tem perigo a vista, levando água e sol direto, sem descanso.

Termino o meu turno as 6 da manhã e vou dormir um pouco. Lá para meio dia o Gulilherme vem com uma salada liquefeita de alface, pepino, tomate, pimentão, e etc. Já me acostumei... quando ele vem com essa mistura é porque teremos muito trabalho.

Não deu outra. Montagem da assimétrica, que graças a Deus deu certo desta vez. Tive que fazer trabalhos na proa, os quais não estou acostumado. Consegui me superar de novo transitando pela proa com o barco a 5 nós; Ajudei a levar o saco da assimétrica, preparar o material, voltei ao cock pit para puxar cabos da adriça... e a vela abriu exuberante. Fui até a proa fotografar este momento.

Depois de meia hora o vento ronda e tivemos que fechar a assimétrica e desta vez deu tudo certo. Fizeram as pazes a vela e o Guilherme. Quando começávamos a comer uma salada entra nova tormenta; e desta vez para minha surpresa o skeeper pede serenamente para eu fazer os dois rizos. Fiz sozinho e me senti muito bem; afinal estava começando a entender melhor o Okey Dokey.

Terminei esta parte do dia transpirando muito; os pingos de suor rolavam testa abaixo. Esta parecendo um curso intensivo de vela; perdendo medos, conhecendo o barco, me superando fisicamente... aliás superando todos os meus limites.

No comando da noite sinto que o vento estabiliza na alheta de bombordo e não espero orientação. Se errar, errei. O skeeper está dormindo e modifico a regulagem de vela que ele havia feito. Heureca!!!! Ganhamos 2 nós na velocidade.

Espero uma hora e com o vento chegando a 14, mantínhamos uma velocidade de 7,7 a 8. Resolvi acordá-lo para verificar se deveria abrir a asa de pombo e assim foi feito. No meio da noite abrimos a asa de pomba e assim foi até a manhã seguinte. Mais dois dias assim e sairíamos do negativo. Chegaríamos a Fernando de Noronha tranquilamente.

Fiquei muito feliz por ter feito a regulagem certa e a cada dia que passa me sinto mais confortável e conhecedor do Okey Dokey. A noite é tranquila e estou em meu turno até a meia noite. Esta madrugada não é minha.

Marcos Antonio Cascino

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