terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dia 22 - Conhecendo a fúria do mar 01

Começa o meu turno as 24h. Já são mais de 48 horas com vento constante. O skeeper diz que está sendo uma travessia de muita sorte... Enquanto o clássico (o que todos planejam) é fazer a rota como se as duas pernas, a Oeste e a o Sul fossem catetos, nós a fizemos como uma hipotenusa, mirando direto em Noronha.

Era o plano “C” do Guilherme e resolvemos adotá-lo. A chance de entrarmos no triângulo onde não existe vento era muito grande...

15:45 – O dia todo sem vento, ou quando tinha era de frente. O dia de um veleiro sem vento não é agradável. Começo a ficar preocupado com a logística. Ainda estamos em horas negativas, talvez 36 pelos meus cálculos. Se não ventar para possibilitar a velejada, corremos o risco de não termos como chegar a Noronha. O combustível nos deixaria a 350 milhas da Ilha, o que não seria nada agradável.

Vem o momento de confiar em que dará tudo certo e não entrar na ansiedade. Desço para tentar dormir um pouco.

9h- começamos a velejar com vento sudoeste a 30º... Um alívio em todos os sentidos. Os galões de diesel já tinham sido consumidos em dois terços.

Nem meia hora e entra um vento sul de proa com 25 nós; começa um inferno que iria durar 36 horas. Sofrível é uma palavra que representaria essas 36 horas. Aliás sofrível é muito pouco! Horas desesperadoras. Tivemos que mudar o rumo para 118 (o que nos levaria para a Africa) para aguentar a “FÚRIA” do mar. Não dá para descrever essas horas.....desesperadoras.

Ondas imensas batendo de frente... dentro do barco tudo voava... fora tinha que me agarrar a algo e rezar. Pensei pela primeira vez que não voltaria para casa. Começo a pensar na minha família... uma vontade imensa de poder falar com eles. Sofri muito... mas precisava confiar e confiei.

Quando tudo parecia certo, estávamos nos afastando de terra, com pouco combustível, água na reserva, e uma dura prova de fogo para o Okey Dokey. O piloto para de funcionar e tenho que revezar com o Guilherme no timão.

Já não tinha mais forças para me equilibrar e manter o barco em um rumo que eu nem sabia onde iria dar. Começamos a nos revezar em períodos de aproximadamente quatro horas. Me superei mais uma vez... física e emocionalmente. Queria a todo custo rever minha família.

Marcos Antonio Cascino

Nenhum comentário:

Postar um comentário